quinta-feira, 4 de junho de 2015

Greve divide opiniões de alunos e professores da Unemat, campus de Alto Araguaia

Professores decidem não aderir à greve. Alguns alunos concordam com a posição, outros acadêmicos taxam os professores de “covardes” e “medrosos”.

Por Ademilson Lopes

“Professores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em greve!” Isso é o que anunciou a Associação dos Docentes da Unemat (Adunemat), na segunda-feira (01). No campus de Alto Araguaia, os educadores recuaram e decidiram não aderir à greve e continuar com as aulas normalmente. O mesmo aconteceu semanas antes quando a classe divulgou, no dia 25 de maio, uma paralisação.
Nessa posição, os professores receberam apoio de alguns alunos, que dizem entender a situação delicada que reflete o momento e a realidade do campus. Porém, outros acadêmicos taxam os professores de “covardes” e “medrosos”. “Ensinam em sala de aula o que não fazem na prática”, desabafa o estudante do 4° semestre de jornalismo, Felipe Garrido, de 21 anos. 

Entenda o caso

No dia 27 de maio, vinte e dois professores dos três cursos (Letras, Ciência da Computação e Jornalismo) do campus da Unemat em Alto Araguaia, se reuniram para deliberar se iriam aderir à paralisação de advertência sugerido pela Adunemat. Duas propostas foram colocadas em pauta: paralisar as atividades educacionais de quarta à sexta-feira (29); ou continuar com as aulas normalmente sem paralisação e aguardar os desdobramentos futuros. Após um caloroso debate, a segunda proposta venceu a primeira por 11 votos a nove; dois professores se abstiveram de votar.
O idealizador da primeira proposta e professor do curso de Jornalismo, Gibran Luiz Lachowski, acabou como voto vencido na reunião e acredita que a paralisação, ao longo daquela semana, poderia ter evitado a greve deflagrada pela Adunemat. “A paralisação de advertência de quarta à sexta teve apoio de uma parte de professores, sobretudo de jornalismo, no sentido de fortalecer o movimento dos docentes para que não houvesse greve, porque ninguém quer greve. Só que a maneira correta de não fazê-la seria paralisar para pressionar”, esclarece.
Já na segunda-feira (01) os docentes de jornalismo e de computação se reuniram separadamente com os seus pares, e os dois grupos decidiram não aderir à greve e seguir com o calendário normal de aulas. Os professores de letras foram os únicos que não se reuniram para decidir sobre a greve. Segundo o professor Milton Chicalé Correia, lotado no curso, já havia um consenso entre os seus colegas contra a greve e por essa razão dispensou-se qualquer encontro para debater o tema.
Para alguns professores – contra e a favor da greve -, o apoio do Sintep é fundamental para os rumos das negociações da Adunemat. Conforme esses docentes explicam, se os professores da rede estadual básica de ensino não paralisarem, a greve na Unemat vai ficar sem força. “Eu acho que vale o bom senso. O principal sindicato do Estado, que é o Sintep (Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público), tem de 12 a 15 mil sindicalizados. Enquanto ele não entrar em greve, o resto não faz volume. O Estado realmente não tem dinheiro para pagar o reajuste. Nós temos todo o direito de fazer greve, mas o governador agora tem todo o direito de não pagar”, pontua Max Robert Marinho, 35 anos, lotado no curso de computação. Marinho diz ainda que a pauta de reinvindicações feitas pela Adunemat não justifica a interrupção das aulas.  O docente é contra a greve.
Por outro lado, os professores de jornalismo em Alto Araguaia foram os únicos que se reuniram com os alunos do curso para dar esclarecimentos em torno da greve. A assembleia aconteceu na última segunda-feira (01), no período de aula, às 20h. Os educadores de letras e computação não dialogaram ainda com a classe estudantil por meio de um evento semelhante.
“Nenhum outro curso aqui do campus fez essa socialização (reunião com os estudantes). Para eles parece que as coisas simplesmente continuam. Para nós de comunicação, não. A gente não aderiu nesse momento, mas nos mostramos profundamente tocados e mexidos com a situação (greve). Uma parcela de professores está sedenta para fazer mobilização (greve) e eu acho que vale a pena”, comenta Lachowsky.
Entre os principais argumentos, está a fragilidade política do campus de Alto Araguaia para entrar em confronto com o Governo e com a direção da Unemat, por falta de engajamento.
Campus de Alto Araguaia (Foto: Marcos Cardial)

“Suposta” fragilidade do campus de Alto Araguaia

De maneira geral, no âmbito dos três cursos em Alto Araguaia, os professores que são contra a greve argumentam que, por ser um campus pequeno, detentor de um número reduzido de alunos, distante dos centros de decisão e relativamente novo, não vale a pena arriscar. Eles ressaltam que um movimento grevista poderia comprometer o futuro da instituição na cidade, temendo represálias e boicotes por parte do Governo e da direção, em Cáceres, o que poderia afetar até investimentos no campus local.
“Olha, a Unemat em Alto Araguaia, ainda mais depois de tanta represália que a gente toma da sede, acho que não é o momento para querermos entrar em greve agora não”, defende Marinho.
No entanto, para o acadêmico Felipe Garrido, esse medo demonstrado pelos professores representa um ato de covardia. “Eu não concordo com esse posicionamento. Existem outros campi mais jovens do que o de Alto Araguaia em greve. Nós temos o campus de Pontes e Lacerda que começou com apenas um curso aderindo e a greve se estendeu para os outros cursos, porque os universitários decidiram paralisar. Os professores têm posicionamentos particulares para não aderir à greve e os que são favoráveis estão sendo pressionados por quem é contra. Eu como futuro jornalista me sinto decepcionado por eles (professores)”, conta.
Para a universitária do 3° semestre de Jornalismo, Robilainy Rodrigues Lima, 24 anos, a atitude dos professores é justificável. “Eu concordo com os professores. Existem outras situações que devem ser levadas em consideração. Aderir à greve no momento não seria conveniente nem para os professores na situação em que eles se encontram e nem para nós, acadêmicos; pelo menos não para mim, por conta do atraso no calendário de aulas”, comenta.
Em Computação, Marinho conta que o calendário de aulas termina em duas semanas para todos os alunos do curso, finalizando o semestre. Por isso, ele defende que uma paralisação imediata, além de prejudicar os universitários, não trará efeito positivo para as reinvindicações da pauta grevista.

Cartaz de manifestação em Cuiabá/MT. (Fonte: Facebook/Adunemat)

Principal reivindicação: recomposição inflacionária

O foco central que a Associação dos Docentes da Unemat (Adunemat) lutam, se refere a recomposição inflacionária de 6,22% - a incidir sobre o salário dos docentes -, alusivo à Revisão Geral Anual (RGA). Esse valor serve para evitar que os professores percam o poder de compra. Isto é, se os preços sobem com a inflação, a remuneração dos educadores deve aumentar no mesmo percentual, impedindo a desvalorização dos salários.
Por outro lado, o Governo do Estado pagou a metade do reajuste (3,11%) no final do mês passado e fez a proposta de que quitaria os outros 3,11% no mês de novembro deste ano. Segundo o governador Pedro Taques (PDT), se o reajuste integral for pago aos professores da Unemat, o Poder Executivo vai descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
De acordo com a Lei invocada por Taques, o Poder Executivo dos estados está impedido de usar mais de 49% da receita corrente líquida para cobrir gastos com pessoal (despesas com funcionários públicos, o que inclui o pagamento de salários). Conforme o governador, o Estado já ultrapassou esse limite em 0,85% e por isso não tem condições de atender à reivindicação dos professores da Unemat.
“Estamos fazendo a greve para cobrar um direito nosso. É legal, mas o que o governo está propondo é abuso de poder. Não aceitamos a proposta e vamos continuar com a greve e não temos data para retomar as atividades. O governo é obrigado a pagar o que prometeu” comentou o presidente da Adunemat, Leonir Amantino Boff.
            Uma nova Assembleia Geral Extraordinária da Adunemat está marcada para terça-feira (09), em Cáceres-MT, às 14h. Consta no convite que o evento servirá para avaliar o andamento da greve e decidir a sua continuidade.

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